RENASCIMENTO arte e política
RENASCIMENTO
O Renascimento não é precisamente um período histórico, mas a síntese de um espírito novo que surgiu na Itália. Na filosofia, o movimento foi inaugurado por Dante, com a sua Divina Comédia, no início do século 14, mas foi a partir dos séculos 15 e 16 que os pensadores ampliaram a faxina para varrer a poeira medieval.
Os renascentistas eram bons marqueteiros: usavam os termos “renovar”, “restituir a uma nova vida”, “fazer reviver” para marcar uma oposição clara à cultura da Idade Média, que julgavam um período de barbárie e escuridão. A história fez questão de acabar com essa propaganda enganosa — a Idade Média não foi só horror.
O nome Renascimento, enfim, colou, mas o período marcou, na verdade, o parto de uma outra cultura, que colocou o homem e suas inquietações — e não mais o Deus dos medievais — de volta ao centro do mundo. Não por acaso, a fase também é chamada de humanismo. Nascia uma filosofia inteiramente secular, separada da Igreja.
Os renascentistas beberam na mesma fonte dos medievais, na filosofia grega. Platão e Aristóteles — sempre eles — foram a inspiração dos ideais antropocentristas. Platão foi amplamente recuperado na Itália renascentista que dominou o mundo cultural da época — a imprensa de Gutenberg se encarregou de espalhar as ideias renascentistas para o resto da Europa. Os humanistas colocaram em prática o uso da razão e da evidência empírica na investigação do mundo.
Mas a coisa não era tão pé-no-chão assim. Uma das correntes do pensamento da época, o neoplatonismo, explorava a ideia de que o homem era parte da natureza e podia agir sobre ela por meio da magia e da astrologia. Outra corrente, mais realista, iniciou a defesa dos ideais republicanos contra o poderoso Império Germânico e contra os papas.
O florentino Nicolau Maquiavel é seu primeiro representante. A liberdade política da antiga Grécia era exaltada como exemplo de participação social. A indignação contra o status quo levou a mudanças profundas e marcou a Reforma Protestante, que teve como resposta a Contra-Reforma e a Inquisição.
Os pensadores renascentistas escreviam bem à beça. As obras mais famosas da época são hoje mais conhecidas como peças literárias do que como tratados filosóficos.
O Elogio à Loucura, de Erasmo de Roterdã, por exemplo, é considerado uma das sátiras mais brilhantes da literatura mundial. Montaigne, autor de Ensaios, é tido como o inventor do gênero.
Apesar do entusiasmo marcado pelas grandes aventuras marítimas da época e pelo pulsante comércio que entupia a Europa de novidades vindas do Oriente e da América, sem esquecer da efervescência das artes, com Da Vinci, Botticelli e Michelângelo botando para quebrar, as obras mais famosas do campo filosófico são céticas e pessimistas.
Para Maquiavel e Montaigne, por exemplo, não havia muita saída para a corrupção na política — uma interpretação tremendamente atual, diga-se.
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